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domingo, 12 de julho de 2009

Um livro inacabado... [pág.99]

Abriu os seus olhos enquanto o seu corpo pemanecia quieto dentro da manta, esperando que o barulho à volta do seu quarto desaparecesse. Ouviu os últimos passos a desaparecerem ao longe e saiu debaixo da roupa pesada que a cobria do frio nocturno percorrendo uma pequena distância até a um armário rente a uma das paredes. Abriu as duas portas e enfiou os seus dois braços até uma pequena abertura que se situava na ponta inferior esquerda. Baixou-se apoiando o seu jolho nu no chão do quarto e rodou um objecto que fez um clique ao abrir um esconderijo. Dentro dele retirou um leno de pano castanho escuro, um chapéu de palha, um elástico que a sua mãe lhe tinha oferecido antes do casamento, um casaco de couro preto de mangas compridas e umas calças de pele justas ao corpo. Despiu o seu vestido de noite junto à janela aberta, a luz lunar banhava o seu corpo nu voluptuoso que era reflectido pelo espelho que estava à sua frente. Por momentos ficou a contemplar os contornos do corpo espelhado naquele grande pedaço de vidro liso, a observar as formas que sobreviviam ao tempo e que tanto atraíam os homens. Pegou nas calças de pele e vestiu-as, agarrou no casaco de couro e cobriu a parte de cima do corpo com ele apertando-o à pele. A sua mão direita alcançou o elástico oferecido, enrolou-o à volta do seu cabelo feminino apanhando-o com destreza. Pegou no pano castanho escuro e cobriu o seu cabelo loiro, escondendo-o. Colocou o chapéu de palha completando o disfarce. Voltou a olhar para o espelho para ver o seu corpo banhado pela luz nocturna. As calças já não estavam tão justas como antigamente, a idade tinha-a emagrecido. O casaco ajustava-se que nem uma luva às formas proeminentes do seu peito realçando-as, o que a deixou parcialmente desanimada, queria passar despercebida. Ajustou o cabelo preso pelo elástico ao pano que o cobria e compôs o chapéu de palha para impedir que algum fio loiro se visse fora do sítio. Sorriu ao ver a sua figura, lembrava-se da sua juventude quando brincava aos disfarces e perceber do jeito que tinha para os fazer. Passou amão uma última vez pela ponta do chapéu, compondo-o, e saiu do quarto.
Os corredores estavam vazios de vida humana e as outras divisões acompanhavam a noite no seu torpor sonolento silencioso. Os seus pés deslizavam sobre o soalho de madeira coberto a toda a largura por uma carpete vermelha, os seus passos eram controlados ao milímetro para não emitirem nenhum barulho que a revelasse. Os seus olhos rapidamente se habituaram à escuridão e os seus ouvidos estavam atentos a qualquer som que pudesse vir dos corredores laterais. Percorreu a longa distãncia que separava o seu quarto da escadaria principal num ápice aproveitando o seu longo conhecimento daquelas paredes. Desceu as escadas sem olhar para os pés, os seus olhos perscrutavam a todo o instante cada esquina e cada corredor. Chegou à porta principal do palácio e abriu-a com cuidado para que não rangesse. Ultrapassou a soleira da porta e fechou-a com o mesmo cuidado. Caminhou três passos e sentiu o fresco daquela noite a percorrer as suas narinas.

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