Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Livro fechado [pág.58]

Eleth afastou imediatamente Melith empurrando-a como se estivesse a falar com alguma criatura maléfica que a insultava com a sua presença. Ela caminhou para trás, passo a passo a sua boca abria-se, os seus olhos esbugalhavam-se, a sua cabeça abanava e sua voz murmurava um "não" sumido. As suas mãos foram à sua boca, um choro impulsivo irrompeu vindo dentro de si, das profundezas da sua alma, o seu corpo encostou-se a uma árvore próxima e um grito desumano e magoado encheu o espaço circurdante. Eleth ajoelhou-se num choro compulsivo e imparável, um grito enchia o ar com toda a força dos seus pulmões, o mundo desabava aos seus pés, perdia os seus entes mais queridos. Não queria acreditar no que tinha ouvido, tudo o que ela temia, tudo o que ela sabia aconteceu tragicamente, ela sabia e nada o fez para o impedir. O seu choro era desumano, audível, entristecia as plantas que a rodeavam, feria os ouvidos de quem a rodeava, sangrava os corações de quem assistia. Melith e o soldado eram incapazes perante tal demonstração de raiva, tristeza, angústia, dor, sofrimento, tudo junto num só choro, num só sofrimento concentrado naquele pequeno pedaço de relva à sombra de uma árvore. O mundo de Eleth desabava aos seus pés, tudo o que ela amava desaparecia num ápice de um segundo, de palavras ditas e proferidas em que cada letra era uma facada no seu coração e na sua alma. O seu choro não parava, cada soluço era um grito que ela expelia para o mundo exterior vindo da profunda dor que rasgava o seu ser, que estropiava a sua alma de qualquer vontade de viver que remotamente pudesse subsistir. As lágrimas percorriam a sua face como uma enxurrada de Inverno que tudo leva à frente sem apelo nem agravo, em cada grito, em cada soluço, em cada pedaço de alma arrancado por aquele sofrimento sem palavras. Eleth tombava lentamente pelo chão, agarrando-se à relva como o último fio ténue que ainda a ligava ao mundo dos homens. O céu que cobria Nicalo acompanhava Eleth na sua tristeza, apagando o azul alegre substituindo-o por um cinzento melancólico, ao fundo começava-se a ouvir barulhos vindos do céu, a resposta divina ao apelo da mulher que sofria pela sua perda. O choro de Eleth lentamente foi enfraquecendo, os gritos dolorosos e lancinantes foram substituídos por soluços silenciosos e sussurrantes. Melith aproximou-se com um passo muito vagaroso e indeciso, estendendo a mão para tocar na sua rainha mas retirando-a no mesmo momento.

Sem comentários:

Enviar um comentário