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sábado, 29 de agosto de 2009

Berlim - 20 de Agosto

Primeiro dia inteiro em Berlim, primeiros passeios, primeiros quilómetros feitos. Tudo começou perto da Potsdamer Platz, a primeira impressão sobre a primeira qualidade da magnificência de uma verdadeira catedral da Europa civilizada. Os edifícios da Deutsche Bahn; o Bahnhof Potsdamer Platz; as largas avenidas que rasgam o coração deste continente, pulsando devagarinho e ligeiramente doente; tudo junto resulta em algo majestoso. Primeira paragem, primeiro gozo: uma banca de um alemão com curvas redondas bem assinaladas e assinaláveis na sua barriga de cerveja, vendendo os típicos chapéus russos militares. Falava apenas alemão, regateava os seus próprios preços, mas a única coisa que teve foram umas parcas palavras em português, escolhidas a dedo. Segunda paragem, primeira paragem cultural: breve exposição na Potsdamer Platz com três pequenos pedaços do antigo muro contínuo que dividia fisicamente dois mundos e que criou divisões invisíveis ainda visíveis.



Caminhar lento e contínuo, porém não vacilante sempre na direcção de algo obrigatório de ver, coisas alemãs pois claro. A máquina, parcamente ligada, sempre pronta a captar algo original, típico ou diferente. Percorremos as avenidas, por ruas em alemão e devagar chegamos ao monumentos em honra dos judeus: pedras e mais pedras. Impossível não sentir algo ao ver aquela construção monolítica, monocolor, silenciosa, imponente no seu significado perceptível ao primeiro olhar. Um desrespeito contínuo por quem se senta em cima delas e anda a saltar de pedra para pedra. Deixamos a nossa marca, a nossa homenagem e prosseguimos em frente. Espantado de mim ao ver que a praça que pretendia atingir estava alterada, preenchida por bancadas e bancadas, tudo em honra dos campeonatos mundiais de atletismo. Aos poucos ela surge, sempre silenciosa mas sempre presente. A Porta de Brandenburgo, imutável, igual como a tinha visto cinco anos antes; os mesmos pilares, as mesmas estátuas, a mesma história vincada, com as costas da estátua cimeira viradas em sinal de respeito e desprezo para a linha imaginária do muro de Berlim. As fotografias obrigatórias, as caras de espanto de Rodrigo e a minha cara de orgulho por poder ver mais uma vez; e prosseguimos o nosso caminho. Sem esperar mais minutos, vemos e observamos o Reichstag. Novamente algo imponente; sem palavras para a cúpula de Norman Foster, as formigas que numa ditadura turística sobem de forma ordeira em jeito de caracol os corredores interiores; a fila de espera que sempre aumenta sem jeito para dminuir de tamanho. O longo relvado aplacado de forma dura por um sol que ameaçava o que mais tarde concretizou, 34 graus em plena Berlim. Ao nosso lado o final da Strasse des 17.Juni, algo que deixamos para o dia seguinte. Do outro lado da avenida, o final do Tiergarten: apenas uma olhadela rápida porque tínhamos que prosseguir. E por onde? Por um relvado longo, pois ao fundo víamos algo que eu apenas tinha visto em estaleiro e em construção. Algo simplesmente inacreditável porque não estava à espera que fosse, enfim, imponente. Berlim HauptBahnhof, por muitas palavras que pudesse descrever, apenas as fotos conseguem descrever. Tanto de dia, como de noite.

O dia corre, deixamos Berlim Ocidental e entramos em Berlim Oriental; mas não é uma entrada qualquer, afinal, entramos pela Unter den Linden. Eis uma avenida que dificilmente pode ser classificada: bem se poderia dizer que tem traços firmes de Berlim Ocidental, mas há algo no ar que aponta que passou dezenas de anos sob a liderança comunista. Não é algo que se veja, é algo que se nota, talvez por um sexto sentido de alguém que repete a visita, talvez algo perfeitamente estúpido sem sentido, ou talvez algo que realmente não se consegue explicar. O passo é sempre lento, lojas de souvenirs atraem e lojas ocidentais também; num longo instante chegamos aos primeiros indícios de uma universidade alemã. Completamente por sorte e de surpresa apanhamos uma Faculdade de Direito, da Universidade Humboldt. E o que deve fazer um aluno de Direito que encontra uma relíquia dessas? Exacto, tudo aquilo que vocês todos estão a pensar: entrar e tirar umas fotos para fazer uma boa figura de gajo interessado em Direito. Lá ficámos a observar e aproveitámos para a usar a toilet de uma faculdade irmã. Como bons turistas interessados na nobra arte da ciência jurídica.

No final, uma visita rápida à Ilha dos Museus, ao fundo, numa qualquer contemplação sem sentido sem qualquer razão para não nos aproximarmos. Para acabar o dia, um regresso à pousada e uma espreitadela à noite berlinense. Mas quanto a isso, apenas um nome e uma personagem: Matrix, Berlim Oriental, conduzidos por um nobre dinamarquês bêbado, Lars de seu nome. Uma pequena discoteca onde o house apenas é considerado como algo distante e exótico, onde os anos 80 e o pop mais hip hop reinam de forma quase absoluta. Uma visão única numa única noite sobre a noite leste de uma capital grande, acompanhados por um representante do Norte europeu, regado e conduzido interiormente pela força forte do alcool. Um dia passou-se longe de Lisboa, longe de ti princesa, com as saudades a acumular hora após hora.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Porque uma imagem vale do que mil palavras

Apenas uma palavra.... Berlim


Berlim - 20 de Agosto

Berlim, 20 de Agosto por volta das 00h, hora berlinense... Após um vôo, com partida atrasada ao bom estilo português(numa despedida em cheio embuída no velho espírito português de falta de pontualidade), eis que solo estrangeiro é pisado num momento que apenas demora uns poucos segundos. Afinal segundos estéreis porque, afinal, é a mesma espécie de Terra que se pisa.

Primeiro contacto com tudo aquilo que Portugal sonha ser e que passa toda a hora reclamar pertencer, um país civilizado e verdadeiramente europeu. A noite caía escura no meio da iluminosidade artificial da noite berlinense(ich bin nicht ein berliner, para grande pena minha) e calmamente, carregando perto de 20kg, caminhámos em direcção à estação dos tipicamente típicos S-Bahn em busca de algo que nos levasse para Warschauer Strasse. Supostamente algo parecido com S9, mas o labiríntico mapa berlinense de linhas entrecruzadas, linhas sobrepostas e linhas impossiveis de definir, apenas acrescentava mais complicação ao meu naturalmente alemão de si mais enferrujado que uma barra de ferro no meio da Praia das Maçãs. Uma viagem envoltas na tal escuridão que se tornou mais negra, apenas escondendo Berlim Oriental dos meus olhos experimentados mas já parcialmente esquecidos. A capital europeia por excelência passava tímida pelos meus olhos, envergonhada pela sua nudez dura de anti-comunismo parcamente disfarçado, porém não me importava. Sabia que podia tirar-lhe desforra durante os dois dias seguintes. Num instante tão rápido como ir a Cascais e voltar com trânsito limpo(o que torna este momento numa raridade) chegámos à Warschauer Str. para apenas apercebermo-nos que o U-Bahn já estava fechado. E eis que uma caminhada lenta, de passo de caracol cansado e esforçado, se desenrolou por debaixo da estrutura do comboio urbano, onde bares, alemães e ruas orientais passavam silenciosamente ao nosso lado. Chegados à pousada, apenas foi para percebermos que não sabíamos onde era. Perguntar a turcos foi opção, mas apenas dois holandeses de Enschede foram os nossos guias, no meio de conversas futebolísticas que revelaram ignorância e gozo. Apenas uma simples preparação para os 30km de passeios que se seguiriam...







sábado, 22 de agosto de 2009

ERASMUS - Primeira Parte

Escrita a partir de Varsóvia... rodeado por sofás laranjas numa pousada onde o laranja é a cor imperial nas paredes dos corredores e das escadas. Perto de um grupo de turcos que foi comprar uma PlayStation3, onde um típico jogo americano de wrestling dá a banda sonora estridente, de um péssimo mau gosto entediante.

Segunda cidade visitada no longo caminho em direcção a Vilnius, nova etapa no blog. A partir de hoje, uma história será contada em várias partes. Partes intermináveis, partes curtas como a perna de uma formiga; partes em prosa, partes em fotografia; apenas uma história contada de três focinhos portugueses que planeiam conquistar, dominar e fazer parar Vilnius

Apesar de tudo... é uma história incompleta... porque ela não está aqui, porque estás longe e porque as saudades são mais do que muitas...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Em Roma sê Romano

Ele despertou do seu torpor, com um violento bafo de areia na cara. Esfregou os olhos e recuperou os seus sentidos. O Coliseu estava cheio, sem um único lugar vazio, ao seu lado um velho romano assistia extasiado ao espectáculo que decorria. Os seus olhos estavam esbugalhados de êxtase, as suas feições contorciam-se à velocidade das hormonas humanas mais selvagens, um sorriso lunático cravava-se a casa segundo. Em baixo na arena, dois gladiadores lutavam contra a morte, degladiavam pela glória popular sedenta de sangue. O Coliseu fervilhava num barulho constante, o público vibrava a cada golpe, urros uivavam por cada gota de sangue espalhada pela arena escaldante. Um cheiro a suor, fedor de morte, de sangue coalhado seco, vermelho na arena, inviadia a atmosfera. O lado selvático cresceu quando um dos gladiadores cortou uma das mãos ao outro. O velho que se sentava ao seu lado levantou-se de rompão, erguendo os braços num grito louco de êxtase, onde se lia o prazer da morte personalizada. A mão do gladiador estava empapada em sangue, repousada no chão, o gladiador cambaleava em redor dum pântano vermelho. Sentado do seu lugar, ouviu o barulho da multidão crescer sonoramente, gritava-se pela morte, exigia-se sangue e fedor putrefacto. O gladiador sem mão ajoelhou-se sem forças e foi então que ele o viu, o Imperador, na sua impecável túnica branca, a levantar-se e a estender o braço. Após uma leve hesitação, o polegar baixou, a multidão silenciou-se, esperando. Algo brilhante viajou pela atmosfera e uma cabeça rolou. O culminar da tempestade popular atingiu o seu limite, uma enorme onda de raiva alegre e regozijada encheu-lhe os ouvidos, a morte era celebrada. Ao seu lado, no momento em que a cabeça rolou lá em baixo na arena, o velho rugiu de êxtase, os seus olhos bebiam o sague espalhado em gotas e poças, a língua passou demoradamente pelos lábios, saboreando. O ritual cumpria-se e ele sabia que não lhe podia escapar.