Caminhar lento e contínuo, porém não vacilante sempre na direcção de algo obrigatório de ver, coisas alemãs pois claro. A máquina, parcamente ligada, sempre pronta a captar algo original, típico ou diferente. Percorremos as avenidas, por ruas em alemão e devagar chegamos ao monumentos em honra dos judeus: pedras e mais pedras. Impossível não sentir algo ao ver aquela construção monolítica, monocolor, silenciosa, imponente no seu significado perceptível ao primeiro olhar. Um desrespeito contínuo por quem se senta em cima delas e anda a saltar de pedra para pedra. Deixamos a nossa marca, a nossa homenagem e prosseguimos em frente. Espantado de mim ao ver que a praça que pretendia atingir estava alterada, preenchida por bancadas e bancadas, tudo em honra dos campeonatos mundiais de atletismo. Aos poucos ela surge, sempre silenciosa mas sempre presente. A Porta de Brandenburgo, imutável, igual como a tinha visto cinco anos antes; os mesmos pilares, as mesmas estátuas, a mesma história vincada, com as costas da estátua cimeira viradas em sinal de respeito e desprezo para a linha imaginária do muro de Berlim. As fotografias obrigatórias, as caras de espanto de Rodrigo e a minha cara de orgulho por poder ver mais uma vez; e prosseguimos o nosso caminho. Sem esperar mais minutos, vemos e observamos o Reichstag. Novamente algo imponente; sem palavras para a cúpula de Norman Foster, as formigas que numa ditadura turística sobem de forma ordeira em jeito de caracol os corredores interiores; a fila de espera que sempre aumenta sem jeito para dminuir de tamanho. O longo relvado aplacado de forma dura por um sol que ameaçava o que mais tarde concretizou, 34 graus em plena Berlim. Ao nosso lado o final da Strasse des 17.Juni, algo que deixamos para o dia seguinte. Do outro lado da avenida, o final do Tiergarten: apenas uma olhadela rápida porque tínhamos que prosseguir. E por onde? Por um relvado longo, pois ao fundo víamos algo que eu apenas tinha visto em estaleiro e em construção. Algo simplesmente inacreditável porque não estava à espera que fosse, enfim, imponente. Berlim HauptBahnhof, por muitas palavras que pudesse descrever, apenas as fotos conseguem descrever. Tanto de dia, como de noite.
O dia corre, deixamos Berlim Ocidental e entramos em Berlim Oriental; mas não é uma entrada qualquer, afinal, entramos pela Unter den Linden. Eis uma avenida que dificilmente pode ser classificada: bem se poderia dizer que tem traços firmes de Berlim Ocidental, mas há algo no ar que aponta que passou dezenas de anos sob a liderança comunista. Não é algo que se veja, é algo que se nota, talvez por um sexto sentido de alguém que repete a visita, talvez algo perfeitamente estúpido sem sentido, ou talvez algo que realmente não se consegue explicar. O passo é sempre lento, lojas de souvenirs atraem e lojas ocidentais também; num longo instante chegamos aos primeiros indícios de uma universidade alemã. Completamente por sorte e de surpresa apanhamos uma Faculdade de Direito, da Universidade Humboldt. E o que deve fazer um aluno de Direito que encontra uma relíquia dessas? Exacto, tudo aquilo que vocês todos estão a pensar: entrar e tirar umas fotos para fazer uma boa figura de gajo interessado em Direito. Lá ficámos a observar e aproveitámos para a usar a toilet de uma faculdade irmã. Como bons turistas interessados na nobra arte da ciência jurídica.
No final, uma visita rápida à Ilha dos Museus, ao fundo, numa qualquer contemplação sem sentido sem qualquer razão para não nos aproximarmos. Para acabar o dia, um regresso à pousada e uma espreitadela à noite berlinense. Mas quanto a isso, apenas um nome e uma personagem: Matrix, Berlim Oriental, conduzidos por um nobre dinamarquês bêbado, Lars de seu nome. Uma pequena discoteca onde o house apenas é considerado como algo distante e exótico, onde os anos 80 e o pop mais hip hop reinam de forma quase absoluta. Uma visão única numa única noite sobre a noite leste de uma capital grande, acompanhados por um representante do Norte europeu, regado e conduzido interiormente pela força forte do alcool. Um dia passou-se longe de Lisboa, longe de ti princesa, com as saudades a acumular hora após hora.