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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Em Roma sê Romano

Ele despertou do seu torpor, com um violento bafo de areia na cara. Esfregou os olhos e recuperou os seus sentidos. O Coliseu estava cheio, sem um único lugar vazio, ao seu lado um velho romano assistia extasiado ao espectáculo que decorria. Os seus olhos estavam esbugalhados de êxtase, as suas feições contorciam-se à velocidade das hormonas humanas mais selvagens, um sorriso lunático cravava-se a casa segundo. Em baixo na arena, dois gladiadores lutavam contra a morte, degladiavam pela glória popular sedenta de sangue. O Coliseu fervilhava num barulho constante, o público vibrava a cada golpe, urros uivavam por cada gota de sangue espalhada pela arena escaldante. Um cheiro a suor, fedor de morte, de sangue coalhado seco, vermelho na arena, inviadia a atmosfera. O lado selvático cresceu quando um dos gladiadores cortou uma das mãos ao outro. O velho que se sentava ao seu lado levantou-se de rompão, erguendo os braços num grito louco de êxtase, onde se lia o prazer da morte personalizada. A mão do gladiador estava empapada em sangue, repousada no chão, o gladiador cambaleava em redor dum pântano vermelho. Sentado do seu lugar, ouviu o barulho da multidão crescer sonoramente, gritava-se pela morte, exigia-se sangue e fedor putrefacto. O gladiador sem mão ajoelhou-se sem forças e foi então que ele o viu, o Imperador, na sua impecável túnica branca, a levantar-se e a estender o braço. Após uma leve hesitação, o polegar baixou, a multidão silenciou-se, esperando. Algo brilhante viajou pela atmosfera e uma cabeça rolou. O culminar da tempestade popular atingiu o seu limite, uma enorme onda de raiva alegre e regozijada encheu-lhe os ouvidos, a morte era celebrada. Ao seu lado, no momento em que a cabeça rolou lá em baixo na arena, o velho rugiu de êxtase, os seus olhos bebiam o sague espalhado em gotas e poças, a língua passou demoradamente pelos lábios, saboreando. O ritual cumpria-se e ele sabia que não lhe podia escapar.

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