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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Beach and Sand

A água do mar limpa a areia das imperfeições que a rodeiam, desenha um novo tapete sagrado e intocável antes de recuar para recuperar o seu fôlego. As ondas engolem as rochas que encontram pelo caminho, num abraço doce e sonolento. Irmãs gémeas atacam as falésias intermináveis, pedaços despidos de pedra desnudados pela erosão temporal de um vento agreste e frio. Essas mesmas irmãs arrancam com ódio e com as suas garras de água os pequenos pedaços de roupa rochosa que escondem as falésias, descida mortífera para o medo da humanidade. Envolvem as paredes de pedra, primeiro escudo defensivo da terra, com um beijo doce mas mortífero, um toque cínico.
Vês quem aí vem? Olha, olha, ali mesmo ao teu lado. Não vês? Não sentes? Aproxima-se aos poucos, devagarinho num silêncio silencioso. Não vês? Fecha os olhos e respira fundo, é a brisa fresca que passa todos os dias pela praia. Um sorriso desenha-se na tua cara, sentes agora, não sentes? É aquele sopro que todos os dias percorre as dunas antigas, que afaga as falésias sábias com o seu toque suave e que transporta no seu colo a imensidão do desconhecido. Simplesmente... deixa-te levar... e sente... as leis do coração...

domingo, 24 de maio de 2009

Agosto 2006

Era já noite escura quando chegou à orla da floresta. Estava tudo calmo, mas uma acalmia estranha e incómoda. Entrou pela floresta, local que lhe era estranho e causava arrepios. À medida que se embrenhava cada vez mais na floresta, mais arrepios subiam pela espinha acima e mais desconforto sentia por estar num sítio tão inóspito, escuro, estranho e irrealmente calmo.
Passado algum tempo chegou ao ponto combinado, uma clareira que destoava da passagem que o rodeava. Árvores só ao redor do perímetro e vegetação só existia numa espécie rasteira sem beleza alguma. Conduziu o seu cavalo até ao antro da clareira e preparou-se para ficar à espera.
Perscrutou o horizonte à sua volta à procura de algum sinal ou movimento, mas em vão. A escuridão não lhe permitia um raio de visão para além do perímetro da clareira. Passados alguns minutos, a sua atenção foi desperta por um movimento que perturbou a quietude da noite. Foi um movimento repentino que foi imediatamente seguido por outros e num instante reparou que um círculo do soldados rodeava-o. Então, ao ver este cenário, ouviu uma voz conhecida:

- Apraz-me que Vossa Excelência chegou inteiro...
- Mas a mim não me apraz vê-lo. Para quê este aparato todo?
- Vossa Excelência tem que compreender que a minha segurança tem que ser acautelada, visto que venho incógnito...
- Está bem, está bem, que seja. Vamos lá despachar isto. Trouxe o que lhe pedi?
- Depende do que...
- Do quê? Eu deixei claro que não haveria mais contra-partidas.
- Hum... Visto dessa maneira dificilmente teremos negócio.
- O quê? Julgo que não estou a perceber bem... - a espada desembainhou-se à medida que proferia as palavras.
- Está a perceber bem está. Vossa Excelência não quererá... - disse com um sorriso de cara-a-cara, apontando para o círculo de soldados. Olhou em seu redor e viu que não teria hipóteses. Embainhou a espada.
- Ganhaste mas só desta vez, seu ladrãozeco.
- Eu não diria ladrãozeco, diria...talvez...negociante.
- Não gracejes, seu velhadas infame!
- Bem velhadas... Sou mais novo que seu pai e muito menos infame.
- Eu já disse para não gracejares!! Senão a tua existência nunca mais será notada.
- Não faria muita diferença, lá isso é verdade. Mas também é verdade que se eu, porventura, morresse, Vossa Excelência não obteria o que quer.
Os seus olhos cruzaram-se e fitaram-se durante momentos. Eram olhares diferentes, um de raiva e outro de divertimento. Esta luta entre homens diferentes no seu género prosseguiu, prosseguiu, prosseguiu até Vossa Excelência dar por terminada a refrega visual. Largou o pescoço do seu interlocutor e a conversa avançou.
- Vamos lá despachar isto. Está-se a fazer tarde.
- Muito bem, como queira. "..." traz a caixa!
"..." recebeu a caixa e deu-a a Vossa Excelência. Era de pequena dimensão, rectangular, muito simples com uma ou outra decoração modesta a rodear o forro da peça

Agosto 2006

Estrela Cadente

Uma estrela cadente rasga o céu, a noite ilumina-se com um feixe de luz luminoso. O vento sopra numa brisa arrepiante transportando o fresco da vida num ritmo vagaroso, o ritmo intemporal do destino sem fim. As estrelas brilham lá em cima, no alto da sua imensa distância para a alma mundana e ordinária da raça humana. Um espelho de inexorabilidade, de sonhos destruídos por uma racionalidade diminuta, fruto de um romantismo que tudo apaga e tudo constrói, numa utopia rodopiante e esmagadora sobre a sua própria base fundamentadora. As estrelas observam, cativam, iluminam, constroem pensamentos, abalam sentimentos, matam certezas, pulsam um destino no seu pequeno ponto luminoso perdido entre tantos. Um romantismo isolado na sua própria ilha, um mar distante e invisível de racionalidade perdida pela força de um vento, um vento que simplesmente leva e se deixa levar para lugares recônditos, distantes, apenas e unicamente desconhecidos, o medo do mistério da novidade. Ciclos viciosos que não se apagam com os erros, apenas se adensam com cada gota de sofrimento, uma navalha afiada e gélida que raspa sobre a pele desenhando linhas tortas e desconexas, o caminho tortuoso de um amor romântico apenas alimentado por um vento apenas conhecido e visto pelo coração atingido pela adaga mortal. As estrelas continuam a brilhar, a noite passa lânguida com um sorriso cínico escondendo atrás do manto da escuridão vidas paralelas, caminhos impossíveis e atalhos incompreensíveis. A solidão revela um estado de alma, um estado de espírito necessário até uma nova descoberta aparecer, escondida pelo cobertor da noite.

sábado, 23 de maio de 2009

Invenções nocturnas

Gracioso e glorioso,
Tudo como novo, como gosta o meu povo.
É preciso renascer para viver, sera misericordioso ou asqueroso?
Talvez um mundo de cão onde existe pouca acção
Ou muita omissão, depende da concepção.
Uma rima final, um término inicial
Pois que não faço outro igual.

Arrasto a minha existência
Com muita paciência e alguma insistência.
Porém sem tiques de resistência
Mas com meros lampejos de veemencia

2009-05-23
02h48

sábado, 16 de maio de 2009

Rascunho [3º volume]

Uma simples frecha de luz irrompia pelo ar escuro interior do espaço coberto pelo espesso manto de breu sem tréguas. O silêncio imperava num império sem sentido e duração temporal não coincidente com a esfera cronológica da espécie humana, apenas quebrado pela queda incessante de água. Num dos cantos pequenas gotícolas de água viajavam pelo interior da pedra fria para iniciarem um vôo mudo pela atmosfera interior até beijarem o chão. Uma queda cronológica, repetitiva, a mesma gotícola de líquido fresco junta com outras, formando uma orquestra ritmada. Um som agudo que marcava o passar dos segundos, o ritmo inexorável impossível de ser travado.
Um suspiro mais prolongado lançou o seu som acima do ruído ambiente. Os seus olhos abriram-se e fitaram o nada, espaço invisível onde a luz se escondia por detrás de uma espessa cortina negra. Tentou mexer os braços mas rapidamente se aperceberam da sua inamovibilidade, o som de correntes presas aos pulsos assinalou a sua presença. O olhar percorria o espaço confinado onde estava enclausurado, sentia-se suspenso no ar e com a barriga pesada. Da sua testa despontou uma gota de suor que iniciou a sua descida pela face até encontrar uma ferida aberta onde repousou. A sua cara deformou-se numa careta de dor e mais uma vez os seus músculos responderam, tentando-se libertar da prisão sem sucesso.
De repente os seus ouvidos captaram um som ruidoso de uma fechadura pesada a abrir-se lentamente. Com um forte e estridente ranger a pesada porta de ferro abriu-se introduzindo luminosidade dentro da escuridão. Num acto reflexo os seus olhos fecharam-se incapazes de aguentar com aquele impacto luminoso, apenas os seus ouvidos conseguiam acompanhar o fechar da porta com estrondo. Por momentos o silêncio voltou a reinar, apenas a sua respiração acelerada fazia-se ouvir. De repente o silêncio foi quebrado por dois passos que ecoaram, seguidos pelo iniciar de algo a ser arrastado. Era uma cadeira de madeira a ser puxada pelo espaço desconhecido, as suas pernas arrastavam-se lentamente pelo chão irregular de pedra negra. Ao mesmo tempo passos vagarosos ecoavam na pedra formando uma orquestra com as gotícolas de água. Dois sons agudos de mãos dadas numa sinfonia perfeita, um ritmo irrepreensível conduzido pela mão magistral do seu maestro de seu nome, medo. À medida que sentia a cadeira e os passos a aproximarem-se de si, a respiração tornava-se mais acelerada. O medo aflorava à sua pele, cada gotícola de suor não mais era do que meros panos de água fresca necessários para revitalizar o corpo para mais uma dose de sofrimento. Cada passo era uma passagem de uma faca afiada e fria rente ao seu espírito, cada nota musical perfeitamente combinada entre as gotas de água e aqueles pés tornavam-se um tormento para os seus ouvidos, um catalisador para a sua alma e corpo ferido.

2009-05-16
03h57