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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Um livro inacabado... [págs.91,92]

A sua cara era acariciada por algo fresco e suave. As suas mãos percorriam o espaço à sua volta e sentiam uma textura húmida e regular. A sensação de frescura macia alegrava-o provocando um largo sorriso na sua cara. Abriu os olhos e viu uma grande extensão de planície verdejante à sua frente. Não se conseguia recordar porque tinha adormecido naquela manta relvada, só se lembrava que estava ali há horas. Virou-se da sua posição deitada e sentou-se. À sua volta toda a paisagem era dominada pela relva onde tinha adormecido, ao longe um lago cobria o horizonte rodeado por árvores espaçadas entre si. Mesmo atrás de si uma cadeia de montanhas formava-se majestosa na sua imponência com dois cumes a destacarem-se dos restantes. Colocou uma das mãos à frente dos seus olhos, servindo como tala, e cerrou os olhos tentando descobrir onde estava. Não conhecia a região, procurava por algum aglomerado populacional perto mas não vislumbrava nada. Preocupado, levantou-se definitivamente e começou a caminhar paralelamente ao lago. Percorreu uma distância considerável sem encontrar sinais de vida humana, à sua esquerda o lago fez uma viragem brusca para dentro e à sua direita o som de um rio chegou-lhe aos ouvidos. Prosseguiu o seu andar sempre com a referência do som do rio ao seu lado direito e finalmente viu, ao fundo, a ténue linha de uma estrada. Reconfortado por ter encontrado algo que procurava, desviou os seus passos em direcção ao rio que ouvia à distância. O rio parecia provir das montanhas que se mostravam ao fundo não tão majestosas devido ao caminho já percorrido. Aproximou-se da margem no sítio onde o curso de água fazia uma viragem acentuada para a direita, continuando em frente perdendo-se no horizonte. A sede ganhou força e dirigiu-se para a beira da margem formando uma concha com as mãos e bebendo a água do rio. A frescura do líquido azul deu-lhe forças e uma sensação de repouso. Limpou a sua boca à manga do casaco e ao fazê-lo virou a cara para a sua esquerda reparando num vulto ao longe.
Intrigado por ter encontrado alguém num sítio tão ermo começou a caminhar na sua direcção. Subiu uma pequena elevação rodeada por árvores frondosas e que terminava numa queda brusca sob pedras pontiagudas que surgiam timidamente na superfície do rio. Aproximou-se cautelosamente para não ser detectado, escondeu-se atrás de uma árvore próxima e reparou que era uma figura feminina adulta. Era baixa, um cabelo castanho escuro mostrava-se desalinhado, estava imóvel junto à queda abrupta no fim da elevação. Ela continuava parada sem se aperceber que ele a observava. Os seus braços estavam caídos ao lado do corpo e nenhum músculo se parecia mover. Quanto mais olhava para a figura feminina mais intrigado ficava sem conseguir perceber quem era ou o que estava ali a fazer. Saiu detrás da árvore e começou a caminhar, muito lentamente, na direcção dela. A figura continuava muda e serena, aparentemente sem se aperceber da presença dele. Estava a dois palmos de distância dela, conseguia reparar nos vários pormenores do seu vestido, no seu cabelo ordenadamente desalinhado num padrão irregular e parou de caminhar. Estendeu a sua mão até ao braço direito da figura feminina tentando tocar-lhe mas o seu movimento foi interrompido pela brusquidão de algo inesperado. A figura abriu os braços lentamente e começou a correr em direcção ao abismo. A sua única reacção foi seguir a mulher para a impedir de cair mas só teve tempo para parar na beira da elevação segurando-se nas pontas dos dedos dos pés. Os seus olhos observaram horrorizados a figura feminina lançando-se num voo silencioso que só parou na água coberta por pedras pontiagudas.

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